O Brasil está pronto para crescer? Um aumento na SELIC mostrará que não...




"Ao contrario do passado, quando muitas vezes o Brasil saía de uma crise quebrado, hoje não, o Brasil sai da crise de uma maneira muito saudável e preparado para crescer" - Henrique Meirelles, Presidente do Banco Central.

"No final desta década o Brasil já vai ser um país avançado, a quinta ou a sexta economia do mundo e com potencial de crescer de 5% a 6% por muito tempo". - Guido Mantega, Ministro da Fazenda.

O que há de incomum em ambas afirmações é a certeza de que o Brasil saiu da crise de maneira mais efetiva que outros países. Tanto um quanto outro estão certos de que nosso país está pronto para crescer e o Ministro da Fazenda projeta o Brasil como a quinta ou sexta maior economia do mundo em 10 anos. Haja otimismo.

Pois bem. A controvérsia disso tudo virá na reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) prevista para o próximo dia 28. Esta reunião, muito provavelmente, definirá um aumento de cerca de 0,75% da taxa básica de juros, a famosa SELIC. A justificativa desse aumento está no receio de que a inflação deste ano ultrapasse muito a meta estabelecida pelo governo.

Um aumento na SELIC significa que o crédito ficará mais caro tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. Em contra-partida, aplicações em títulos nacionais ficarão, obviamente, mais atrativas. O empresário investirá menos em ampliação do espaço físico, aquisição de novos equipamentos, contratação de mão-de-obra, etc. e mais em aplicações financeiras. Ao mesmo tempo, o consumo dos cidadãos comuns cai devido à diminuição da oferta de crédito. Trata-se de uma política contracionista que normalmente é adotada pelo governo quando este julga que existe muita moeda em circulação e, portanto, a demanda por bens e serviços está maior que a capacidade produtiva do país.

Ora, mas como é que a demanda por bens e serviços está maior que a oferta se, segundo Mantega e Meirelles, o Brasil era um país que estava "preparado para crescer"?

Incoerência, não?

Tenho que admitir que, quando li essas declarações ainda em 2009, fiquei um tanto quanto intrigado. Tudo bem que possuímos aqui uma política tributária efetiva, leis trabalhistas condizentes com a realidade atual, excelente infra-estrutura, transporte de qualidade, aeroportos que operam com a máxima eficiência, empresas com capacidade produtiva ociosa, educação de 1º mundo... Mas acho que "preparado para crescer" é um termo muito complexo quando o assunto é Brasil. Imagine então quando li que seríamos, no fim da década, a 5ª economia mundial? Quase tive um colapso.

Claro que isso, de fato, não é impossível de acontecer. Porém, ao meu ver, pouco provável.

O Brasil tem ainda muito a fazer se quiser um dia vigorar entre as nações mais ricas do globo. Não existe a menor possibilidade de um país ter um desenvolvimento acima da média enquanto ainda achar que a inflação só é controlada através de política monetária.

À grosso modo, fica claro que estamos no início de um processo inflacionário e que a melhor alternativa à curto prazo é o aumento da taxa de juros. Mas, daí o fato de aparecer na mídia com a cara lavada numa tentativa, quem sabe, de auto-promoção dizendo que o país está pronto para crescer, para mim, é no mínimo subestimar a inteligência alheia.

O problema por aqui é político. Ninguém pensa à longo prazo, diga-se num período maior que 4 anos, por que não sabe se ficará por mais tempo que isso no poder e não quer dar a faca e o queijo para um possível inimigo partidário eventualmente assumir o cargo como seu sucessor. O que eu quero dizer é que ninguém vai fazer um projeto que outro possa ficar com os méritos. Isso explica, por exemplo, o fato de não termos uma Reforma Tributária, da Lesgilação Trabalhista, Previdência, entre outras inúmeras que envolvem tempo e trabalho.

A conclusão que chego é que o Brasil não deixará de ser um país subdesenvolvido enquanto permanecer com a idéia de resolver os seus problemas pensando no curto prazo. E receio que o resultado mais que óbvio da reunião do COPOM é uma gigantesca amostra disso.

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