Batalha cambial e suas conseqüências

Não é de hoje que o Brasil vive um dilema com relação ao preço do dólar.
A busca incessante pelo ponto de equilíbrio (com, obviamente, uma nada discreta participação do estado sempre que lhe parece necessário) torna essa instabilidade diária do mercado capaz de desencadear uma luta de interesses completamente distintos no que se diz respeito ao valor da moeda, mas que, na verdade, visam o mesmo resultado: maior lucro.

Por um lado estão os importadores. Eles podem ser subdivididos em diversos casos individuais; empresas que revendem produtos importados, companhias que utilizam matéria prima proveniente de outros países, ou mesmo nós, consumidores, que enxergamos na desvalorização da moeda americana uma ótima oportunidade de satisfazer nossos mais compulsivos instintos materialistas.

Em contrapartida, encontram-se os exportadores que, com a desvalorização cambial, sofrem incandescentemente em duas vertentes: ao mesmo tempo em que perdem sua força no comércio exterior, lutam contra a invasão dos produtos importados numa concorrência tecnológica e de preços que muitas vezes é absolutamente desigual.
O fato é que essa visão mais genérica do pensamento de ambos os setores é suficiente para nos dar uma mínima idéia de como é difícil para as autoridades que são responsáveis pelas diretrizes da política econômica brasileira encontrar uma situação que agrade a gregos e troianos. Cada ótica que for analisada nos fará propensos a encontrar argumentos satisfatórios que justifiquem a já citada intervenção do estado na compra ou venda de moedas estrangeiras em determinadas situações.

Hoje, por exemplo, com o dólar na casa dos R$ 1,70, a principal crítica por parte de vários economistas é a de que a nossa moeda está muito valorizada.
No entanto, os empresários já estão reagindo. Segundo uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo no dia 05 de setembro de 2010, grandes corporações dos mais variados setores da indústria nacional já solicitaram junto ao ministério da fazenda uma elevação nas tarifas de importação, medida considerada protecionista e de caráter adverso à idéia de livre comércio entre nações. Segundo o mesmo jornal, Guido Mantega, numa tentativa de atender às necessidades do mercado doméstico, já admitiu a possibilidade de ceder à pressão.

Paralelamente, a União Européia já demonstrou seu descontentamento com relação ao incentivo às exportações através do BNDES. Para a UE, essas barreiras comerciais impostas pelo governo brasileiro assemelham-se às da China, e são capazes de distorcer de forma abrupta o comércio mundial.
Ora, sensato, portanto, de acordo com a UE, seria deixar que produtos estrangeiros entrassem em um país cuja propensão marginal a consumir é extremamente alta, abandonar a indústria doméstica ao vento do livre comércio numa atitude autodestrutiva e ver o dinheiro se esvairando enquanto a população fica sem emprego.

O Brasil, historicamente, é um país que zela pelas boas relações internacionais. Mas ninguém aqui é bobo. Todos nós sabemos que tanto na Europa quanto nos Estados Unidos há barreiras comerciais intrínsecas para produtos estrangeiros. Um bom exemplo do que acabamos de citar é o gado exportado pelo Brasil, onde o produtor, hora ou outra, é surpreendido por uma nova norma da vigilância sanitária ou exigências cada vez mais absurdas que nos dá a impressão de não ter outro intuito senão encarecer o preço da carne.

O ideal, portanto, é agir com cautela, sem extremos. Manter nossa boa relação com outros países, formar e participar de grupos sólidos de comércio internacional e incentivar a atividade produtiva no país com aquelas reformas tributária, trabalhista e política, que como todos sabem, ou deveriam saber, parecem se tornar cada vez mais urgentes para o crescimento contínuo e seguro do nosso país.

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